É preciso reagir

 Outro dia, pela enésima vez, procurei atendimento em uma repartição pública, para saber notícia de um processo que estava demando aprovação.  Enquanto era atendido por um letárgico funcionário, percebi que o mesmo delongava o atendimento propositalmente. Suas respostas eram evasivas como se não tivesse interesse no caso. Aos meus questionamentos fazia objeções injustificáveis para o atraso na conclusão do pedido.

Isso não faz sentido, pensei comigo mesmo.

Já no limite da minha paciência, notei a aproximação de um outro servidor. Tinha jeito de chefe ou encarregado. Polidamente me pediu desculpas pelas dificuldades que eu estava encontrando. Falou mal da repartição, ou dele mesmo, e se prontificou para me ajudar.

⁃ O senhor sabe, os chefes não priorizam os processos que não são de seu interesse. Ficam parados sem autuação…disse-me ele.

Eu me fiz de sonso, dando a entender que não estava captando a mensagem. Ele prosseguiu:

⁃ Se o senhor quiser eu posso falar com o chefe e colocar o processo na frente. Ele me disse

⁃ Claro que eu quero! – exclamei.

Ele me chamou para uma sala reservada e depois de falar, falar e falar, verbalizou que o tal chefe gostaria de uma contrapartida minha. Não era nada demais, nem era ilegal. Apenas uma contribuição para a campanha que se aproximava.

Depois de toda a ladainha, confesso que já esperava o “approach”.

Educadamente agradeci a ajuda, não sem antes dizer-lhe que tanto ele como o tal chefe estavam ali para servir a comunidade. E que ganhavam para isso. É claro que ele se desfez em desculpas e retrucou que não estava vendendo facilidades.

Esse acontecimento me faz pensar o quanto precisamos reagir.

Romper com a herança maldita que vem desde o descobrimento, quando os favores e o protecionismo já constavam da famosa carta de Pero Vaz de Caminha.

Evoluir na tarefa de construir uma burocracia que trabalhe para a sociedade. Valorizada e reconhecida, que não demande favores e propostas escusas de favorecimento, nem tampouco o dilapidamento do patrimônio público.

Nesse contexto, os agentes da mudança é a sociedade através de seus representantes.

E quem são esses representantes?

Sem dúvida alguma são os políticos, que periodicamente são eleitos através dos votos dos cidadãos. Eles não são nomeados por ninguém. São votados pela livre escolha dos eleitores.

Eleitores que precisam sopesar suas escolhas e cobrar moralidade, compromisso e respeito pelos bens públicos, também entendidos como os cargos e as representações.

Desde o mais alto escalão até o servidor de menor expressão. Todos devem ser regidos pelos mesmos princípios: moralidade no trato da coisa pública, retidão ética e respeito pelos cidadãos.

Precisamos enterrar de vez o país do jeitinho, das rachadinhas, dos funcionários fantasmas, dos propineiros, dos assediadores (sexuais e morais).

Emergir como um lugar de pessoas civilizadas, preocupadas com o bem estar geral da sociedade e com o futuro das gerações.

E isso só será possível através de escolhas bem feitas. Votar em pessoas que tenham propostas, que demonstrem abnegação para servir. E o mais importante: que sejam cobradas por isso.

Fazer essa mudança não custa dinheiro. Custa tempo, participação social, cobrança e engajamento político. Não existe nenhuma classe ou profissão que tenha a capacidade de mudar o mundo senão os políticos. Para o bem e para o mal.

E a mansidão da sociedade, aceitando desvios de conduta e desonestidade aprofunda o fosso civilizatório.

Precisamos reagir.

Usar a única arma que dispomos que é a intolerância com o mal feito e o voto consciente. Se nós, enquanto cidadãos continuarmos passivos e tolerantes, estaremos dando vazão a que aventureiros e trapaceiros conduzam as nossas vidas.

O cerne da questão é deixar a preguiça de lado.

Lutar para que os jovens leiam mais, estudem mais, participem e discutam as alternativas. Orientar nossos filhos, os alunos das nossas escolas, influenciar os nossos amigos. Não é necessário ter um lado. Ser de esquerda ou de direita não é a solução. A ideologia da honestidade, do bem e altivez de propósitos precisa conduzir nossas ações.

Não é possível que a vida das novas gerações seja pautada por influenciadores digitais. Que as Fake News dominem as discussões e sobreponham sobre a verdade.

É preciso reagir!

A propósito, continuo batalhando pela aprovação do meu processo, que aliás ainda não foi aprovado.

 

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