Lamentos de Tempos Muito Estranhos
Como disse certa vez Nelson Mandela “Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.”
O amor e o ódio são emoções complexas, que desempenham papéis significativos nas relações humanas. Sentimentos originariamente antagônicos, eles podem coexistir em uma dualidade perigosa. A intensidade do amor ou do ódio, pode sobrepor um sentimento ao outro, fazendo com que emoções irracionais aflorem, desencadeando comportamentos e atitudes deploráveis.
Dia sim, outro também, somos impactados pelo noticiário internacional, nacional, regional, local, de casos que nos deixam perplexos, narrando episódios de crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, atirando em colegas de trabalho, esfaqueando professores, matando namoradas, esposas, vizinhos. Bombas são disparadas como se fossem rojões de festas juninas, explodindo escolas, hospitais, casas onde moram famílias inocentes. Corpos são exibidos como troféus de máquinas sanguinárias a serviço de determinados propósitos. É tanta violência, e tão cotidiana, que acabamos por normalizar essas atitudes.
Na verdade, não deveria ser assim. Como seres humanos que somos, a nossa memória genética é a sociabilidade. Desde tempos imemoriais a humanidade busca a convivência social. É claro que sempre houveram disputas. Desavenças familiares, conflitos tribais e guerras universais. Entretanto, por mais injustificável que seja um conflito, usualmente, ele se materializa por algum motivo. Fúteis ou contestáveis, mesmo assim, ancoram-se em uma narrativa.
O que está ocorrendo nos dias atuais, não encontra paralelo na história da humanidade. A violência permeia nossa vida de forma assustadora. Já não se pode andar pelas calçadas, cruzar uma rua ou descansar no banco de uma praça. Não importa se você vive em uma metrópole, ou habita um remoto povoado. O comportamento do ser humano mudou. Nunca se viu tanta violência e tamanho desamor. Será que estamos perdendo a noção do sentimento de solidariedade? A frustração, a indiferença, estariam, em certo sentido, tomando conta de nossa alma? Cada vez mais, o ser humano comum, aquele que vive de forma pacata, longe da violência institucionalizada, se torna uma fera. Mutila, mata, estraçalha, sem ter razão e nem demonstrar arrependimento.
É impossível não nos sensibilizarmos com a crescente onda de preconceitos das mais variadas matizes aflorando mundo afora. Líderes totalmente imorais, transvestidos de verdades absolutas, ancorados na ignorância e no preconceito, espalham Fake News por todo o planeta. Nunca as minorias foram tão hostilizadas e forma tão pejorativa. Pessoas e grupos indefesos sentem-se literalmente alijadas e violentadas da convivência respeitosa da sociedade, sem nenhuma condição de se defender. Essa insensibilidade coletiva se materializa em exaltação dessas lideranças desprovidas de qualquer senso de humanidade. Desprezam a ética, o amor e a caridade, muitas vezes, usando os recursos públicos, em benefício próprio e de comparsas.
Através da manipulação das massas bestializadas, moem reputações e vidas. Usam a tecnologia e a informação como meio de subjugar, dominar e criar feudos de poder. Disseminam a inverdade, a intolerância e o desamor. Apregoam verdades incontestáveis, sob forte cortina de fumaça, para esconder mentiras e falsidades.
E qual o remédio para tanta insensatez? O que podemos fazer para mudar essa realidade? Só existe um caminho. Não desistirmos de acreditar que o amor pode vencer o ódio. Influenciar, de alguma maneira, as pessoas que nos rodeiam. Seguir o exemplo de Gandhi, que venceu uma guerra sem portar armas, pregando a não violência, sem contudo, aceitar qualquer forma de humilhação.
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