Tudo é muito passageiro

 Eu o encontrei sentado numa daquelas cadeiras amarelas e bem frágeis que trazem a marca de uma cervejaria no seu costado. Quase sempre distribuídas em comodato para os donos de bares e lanchonetes, são feitas de plástico e não ostentam nenhum glamour. No caso, era a loja de conveniência de um posto de combustível.

Parei para completar o tanque naquele posto de abastecimento por acaso. Apesar de estar perto de minha casa, não era meu endereço habitual para esse tipo de serviço. Eu achava o posto meio “caído”, e não confiava muito no combustível. Mas o carro havia dado sinal de entrar na reserva, então parei para completar.

Enquanto o frentista realiza o serviço eu desci para comprar uma garrafa de água. Eram quase 11 horas da manhã, e a temperatura já beirava os 27º. graus.

Meio distraído adentrei à loja de conveniência. De relance olhei para algumas pessoas que estavam na área externa da loja. Um rapaz com jeito de nordestino, trazia uma variedade de tapetes pendurados no ombro. Dois senhores recostavam em cadeiras de plástico. Pareciam serem amigos.

– Boa tarde, disse por mera educação.

– Boa tarde, eles responderam.

O sorriso largo me chamou a atenção. E aquela voz não me era de todo estranha. Entrei na loja encabulado, tentando encontrar na memória alguma faísca de lembrança. De onde eu conhecia aquele senhor?

Quando saí da loja o encarei com mais atenção. A dúvida ainda persistia, mas eu tinha quase certeza de saber quem era.

– O senhor é o…

– Eu mesmo. Como você está?

– Estou bem, respondi.

Puxei uma cadeira e sentei-me ao seu lado. Conversamos por alguns minutos como se fossemos velhos conhecidos. Ele perguntou-me o que eu fazia e onde eu morava. Eu quis saber o que ele pensava sobre o momento atual do país e sobre sua saúde. Ele não delongou muito sobre política, mas disse que tudo no Brasil se resolvia por ciclos. Uns eram bons outros nem tanto. Mas que o país era forte e tudo se resolveria.

Eu me despedi com toda deferência. Agradeci pela simpatia, então ele sorriu novamente. Tinha um sorriso muito fácil. A voz baixa e um pouco rouca, transmitia um pouco de cansaço. Me estendeu a mão e desejou-me boa sorte.

Passei o restante da tarde pensando sobre aquele encontro inusitado. Qual a importância das pessoas nesta labuta diária, e como o tempo é uma centelha de vida.

Imaginei aquele senhor no auge de sua trajetória.

Filho de um famoso político, ele nasceu e cresceu cercado pelo poder. Ainda jovem, assumiu um mandato de deputado federal. Depois foi governador, e novamente deputado federal. Encerrou a carreira como senador, cargo que exerceu por duas vezes.

Encontrá-lo sentado em cadeira tão despojada, apreciando o movimento dos carros em um posto de gasolina me trouxe uma tremenda nostalgia. Era um desconhecido para a maioria das pessoas que passavam por ali. Para outras não tinha nenhuma importância. E para ele? Eu acho que ele estava feliz.

Alguns anos depois fiquei sabendo que ele sofria de uma doença degenerativa. E quando soube pelos jornais que ele havia morrido eu fiquei a cismar: “Como tudo é passageiro nesta vida. O que realmente importa é aquilo que fazemos para melhorar a nossa curta estada nesta terra”. Com certeza ele dera o melhor de si.

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